Sou professor e fui empurrado para o ensino remoto. E agora?

Estamos vivenciando um momento ímpar no mundo. Por conta de uma pandemia, todos fomos empurrados para a educação remota. Você pode ser aquele professor que já estava acostumado com uma educação mediada por computador ou então um crítico dessa forma de ensinar, mas o fato é que, gostando ou não, não tivemos outra escolha: o distanciamento social nos colocou a todos no mesmo barco.

Diante disso, o que podemos fazer?

É justamente sobre isso a nossa reflexão de hoje e, primeiramente, precisamos entender que a educação remota ou híbrida, que seja, não é um assunto novo. Existem milhares de estudos realizados sobre seus métodos, técnicas e sobre as tecnologias que dão suporte a esse tipo de abordagem e basta usar o Google para você perceber isso. O que aconteceu agora é que colocamos luz sobre o assunto, ou melhor, colocamos um holofote enorme sobre todo esse tema que volta com força a discussão.

Se você é um professor antenado e preocupado, já deve ter percebido que, na educação remota, as coisas não funcionam exatamente da mesma maneira que na educação presencial. Alguns pontos chamam muito a atenção: aquele aluno participativo não lhe dá os mesmos feedbacks do presencial nas suas aulas remotas síncronas e o tempo parece não ser o mesmo em ambos os métodos (a mesma aula de 50 minutos super produtiva no presencial torna-se uma videoconferência enfadonha no processo remoto).

Uma vez isso posto, é preciso entender bem o fato de termos momentos síncronos e assíncronos. Não se pode transformar sua aula presencial em aula remota sem pensar nisso. Então, vamos pensar: em aulas presenciais, você dá um tempo para seus alunos se reunirem em grupo, fazerem exercícios, discutirem algo? E esse mesmo momento é dado na aula remota? Nas suas aulas presenciais existem momentos de descontração em que os estudantes conversam sobre assuntos outros que não os da sua aula? Você também fala de assuntos outros, não é? E nas aulas remotas? Fazem isso?

Parece justo que a gente precise promover momentos de estudos individuais, de discussão em grupo, de descontração e momentos em que os estudantes estejam com a gente para que, enquanto professores, possamos explicar com mais detalhes um determinado assunto importante da aula. Mas como fazer isso tudo e ainda preparar o que estará disponível na sala virtual, exercícios on-line, inserir tudo no sistema, sem contar aprender a manusear o próprio sistema (o que para alguns já é o grande desafio)?

Precisamos, então, pensar em que momentos esses estudantes precisam, de fato, estar na presença do professor e, em que momentos, vamos trabalhar a autonomia deles para que desenvolvam suas competências de organização, responsabilidade, trabalho em equipe, utilizando projetos e atividades propostas por nós, enquanto docente, mas que não dependam de nós para a realização. Nenhum estudante precisa estar junto do professor para ler um texto, assistir a um vídeo, fazer uma pesquisa. Esse tempo em que os estudantes estão trabalhando sozinhos, o professor pode, por exemplo, planejar suas aulas, criar seus projetos e estratégias.

A partir daí, o problema parece estar na decisão do que trabalhar de forma síncrona e o que trabalhar de forma assíncrona ou, em outras palavras, decidir em quais momentos os estudantes precisam de fato estar na presença do professor e em quais outros eles podem, orientados pelo que foi planejado pelo docente, exercer autonomia em atividades individuais (ler um texto, assistir a um vídeo) ou até em grupo (fazer uma videoconferência entre eles para discutir um tema) ou algo assim.

A resposta para isso parece estar no entendimento da educação por competência, tão falada e tão pouco exercida no Brasil. Ao estudar educação por competência, você vai perceber que competência é o conjunto formado por conhecimento (saber), habilidades (saber fazer) e atitudes/valores (ser e querer) entrelaçados de forma a produzir uma ação, como está disponível em um documento muito rico da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que deixarei aqui para quem tiver interesse em ler. 

Uma vez que consigamos estruturar as competências que nós, enquanto docente, precisamos trabalhar com nossos estudantes, poderemos observar que: as competências necessárias para uma boa formação vão muito além daquelas estritamente conceituais, sendo importante, também, trabalhar competências procedimentais (saber fazer) e atitudinais (atitudes e valores) e que esse período em que estamos vivendo talvez seja um momento rico para isso. Além disso, conseguiremos enxergar que podemos classificar essas competências e, a partir daí, decidir para o desenvolvimento de quais competências, ou parte delas, poderemos trabalhar a autonomia dos nossos estudantes e para o desenvolvimento de quais competências trabalharemos de forma síncrona, em uma videoconferência, por exemplo.

Gostaria, ainda, de indicar duas ferramentas para que você consiga engajamento de seus estudantes nos momentos assíncronos, uma delas para trabalhar leitura colaborativa de textos (https://perusall.com/) e outra para trabalhar outros tipos de mídia, como vídeos, jogos e exercícios interativos (http://h5p.org/). Outras duas para ajudá-lo em seus momentos síncronos, Google Meet (https://meet.google.com/) e Mentimeter, uma ferramenta de feedback, enquanto ainda não nos é possível o olho no olho (https://www.mentimeter.com/).

Depois desse exercício todo, você talvez consiga trabalhar suas aulas remotas de outra maneira e entenda que a autonomia no processo educativo não é ruim, muito pelo contrário, traz vantagens para uma formação mais rica e ampla e consiga, a partir daí, liberar espaço na sua carga horária para planejar suas aulas, definir objetivos claros e trabalhar com a certeza de estar fazendo o melhor para a educação de seus alunos. Talvez a gente descubra, ainda, que esse momento, que parece ser tão ruim, abre a possibilidade de revisão das nossas práticas docentes e de nossos métodos para novas maneiras de ensinar e aprender.

Algumas iniciativas estão sendo criadas para mostrar que a educação híbrida, mesmo para a educação básica, não é uma vilã e sim, desde que bem estruturada e pensada, uma aliada no processo de se oferecer educação de qualidade no Brasil. É o caso da Associação Nacional de Educação Básica Híbrida (http://anebhi.com/) que, se você ainda não ouviu falar, seria muito importante ficar atento. É o futuro que está logo ali e é a maneira como a Doctus enxerga inovação. E para você, o que é inovar?

4 comentários em “Sou professor e fui empurrado para o ensino remoto. E agora?”

  1. Thaís Cristina Guerato

    Acredito que, além das orientações dadas por profissionais capacitados, a prática do dia-a-dia tem nos orientado bastante na hora de analisarmos o que deve ou o que não deve ser relevante no ensino remoto. Para nós, do colégio, que nunca trabalhamos anteriormente assim, têm sido um desafio. Embora cansativo e estressante (já que tudo é muito novo), não nego que tenho me divertido. A pandemia mudou minha perspectiva profissional, aquela ideia de ser um professor. Tive que, obrigada (de certa forma), aprender a me “virar” de um jeito novo e, consequentemente, acabei aprendendo bastante. Também ressalto que acho curiosa a forma de interação que temos agora. Mesmo afastados, estreitamos relacionamentos; todos juntos na busca pelo ensinar e aprender remotamente. Muito obrigada pelas dicas. As ferramentas mencionadas melhoraram e muito nossas aulas.

  2. Claiton Luis Perin

    Diante do contexto atual proporcionado pela COVID-19, em minhas conversas com outros Professores, discutimos diariamente as dificuldades que como educadores nos são impostas e apresentadas. Se de um lado a educação remota nos deixa apreensivos, por outro, quando empregamos as tecnologias existentes, rapidamente conseguimos exaltar resultados expressivos. Precisamos reconstruir a forma de pensar, executar e agir, possibilitando assim que o processo de criação do novo modelo educacional possa se estabelecer de fato de forma abrangente para todos.
    Muitos Professores, assim como eu, já estávamos surfando dentro de um cenário de inovação para a educação, e o modelo híbrido, diariamente se revela como um caminho palpável e condizente com uma linha estruturada de aprendizagem, proporcionando aos alunos uma construção equilibrada para o conhecimento transformado em ação. Mas o cenário atual ainda é dúbio, e muito será preciso produzir nessa transformação do conhecimento em ação. Se olharmos para o contexto educacional de forma abrangente, onde as políticas estabelecidas ditam o contexto, logo percebemos uma grande lacuna na execução do ensino híbrido, pois as esferas municipais, estaduais e federais, não acompanham o mesmo ritmo imposto pelas Instituições particulares, o que pode levar a uma nova reflexão social.
    Acredito que o processo de inovação não esteja apenas relacionado ao criar, ao descobrir, mas sim, ao transformar, fazer diferente e permitir que novos modelos sejam estabelecidos.

    1. Olá, Claiton. Obrigado pelo seu comentário. Sem dúvida a pandemia colocou foco no assunto, mas como você bem disse, ele já era um assunto importante antes. Não dá mais para fugir da realidade. A Doctus surgiu exatamente com esse objetivo. Abraços e conte com a gente!

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